sábado, 23 de junho de 2018

Consumidores e fornecedores conscientes


Meio a crise que assola o país, surge em São Luís um comércio informal de pessoas que cultivam os mesmos hábitos alimentares. Mesmo com alguns estabelecimentos no ramo de venda grãos e de uma alimentação mais balanceada e até vegetariana, os próprios consumidores deste tipo de segmento alimentar encontraram uma forma de comercializar entre si o que produzem em casa, como é o caso da vegetariana Mirella Giusti.

Ela começou com o sonho de sair do centro urbano da cidade para uma área da zona rural e passar a se alimentar do que seu terreno poderia produzir. Começou comprando 12 galinhas caipiras e o que pensava que seria para seu próprio consumo, tornou-se uma grande fonte de renda.

“Logo que eu me mudei, há quatro anos, do centro urbano de São luís para a zona Rural de Paço do Lumiar, para morar em uma chácara, tive como proposta pessoal de comer o que eu poderia plantar e produzir. Então, comprei 12 galinhas caipiras, do qual consumia tanto a carne como o ovo e ainda produzia adubo para fazer uma boa compostagem e assim alimentar a minha horta”, explica Mirela.

A produção de ovos acabou sobrando além do seu próprio consumo e Mirela começou a repassar para alguns parentes. “Só que as galinhas começaram a colocar ovos e eu comecei a levar para a casa da aminha mãe, minhas tias, aí os amigos da minha mãe e tias começaram a querer também. Foi quando percebi que havia uma procura muito grande em São Luís por ovos e galinha caipira. Foi aí então que comecei a comercializar”, conta.

Tudo ia muito bem com o comércio de ovos e galinha caipira, até que Mirella decidiu deixar de comer carne e, com isso, de não querer mais se envolver com o comércio de origem animal. “Hoje estou reformulando os produtos que eu comercializo, porque tudo começou com galinhas, mas hoje não comercializo mais porque eu não me alimento mais de animais. Então não vejo coerência em vendê-los. Não quero mais sofrimento, nem exploração de animais de espécie alguma, mesmo que indiretamente.”

Segundo Mirela, ela chegou até uma média de 300 galinhas, pois foi comprando ao longo do tempo que comercializava. Até o mel orgânico que ela também vendia de um pequeno produtor do município de Picos, no Piauí, também deixou de comercializar. Hoje ela esta se desfazendo das galinhas para focar em hortaliças e produtos naturais e, em especial, uma manteiga produzida por ela feita de castanha de caju.

“Agora nesta nova fase, eu comecei a mudar a minha concepção de consumo de alimentação consciente. Além de produtos naturais que já comercializava como coco, polpa de coco, verde, juçara, frutas da estação vou focar nas hortaliças e em um produto que comecei a desenvolver, como a manteiga de caju, que é um produto exclusivo meu e que estamos começando a inserir no mercado. E assim nos estamos recomeçando”, finaliza Mirella Giusti.

Tradição em família

Outros acabam comercializando alguma tradição em família, como Anastácia de Brito Nery, que faz compotas, pastas, caponata, geleias, caldos, pão sem fermento e seu carro chefe, o extrato de tomate natural, sem conservantes. “Na verdade só faço as coisas por encomenda, pois não tenho um estabelecimento e nem um local fixo, faço tudo na minha casa. Mas o caldo mesmo eu faço há muitos anos, cerca de 20 anos. E comecei fazendo para meu filho que não queria comer verduras e frutas. Esse caldo também é natural e como não como carne vermelha, então não faço de carne vermelha, só com legumes, grãos integrais, peixe e de galinha caipira também”, adianta.

Anastácia, que amiga de pequenos produtores no interior do Maranhão, também desenvolveu vários produtos com o abacaxi de Turiaçu. “Eu comecei a me interessar por produtos que eu não vejo no mercado, no caso do abacaxi de Turiaçu só vejo as pessoas consumindo ele em natura. Ai eu criei a geleia, a compota que faço sem açúcar e sem água, faço também o suco integral dele, sem água e com alguns ingredientes como gengibre e outras ervas e faço também o chá da casca do abacaxi. Esse na verdade eu só resgatei e incrementei essa receita, pois era comum em São Luís as pessoas fazerem a gasosa da casca do abacaxi, mas que hoje não se faz mais”, lembra ela que também faz um espécie de doce brigadeiro com a fruta.

“Eu sempre gostei de uma alimentação mais saudável, desde pequena eu tinha dificuldade para me alimentar, porque parei de comer carne de boi, de porco, de pato desde os 18 anos de idade e hoje eu tenho 47 anos. Então, muitas das vezes temos que reinventar nossa alimentação para suprir essa necessidade alimentar”, disse Anastácia que vem notando que houve um interesse maior das pessoas de São Luís por conta das feirinhas que vem sendo realizada vem vários locais da cidade e que isso também a aproximou dessas pessoas, que tem hábitos e ideologias semelhantes.

“Hoje eu tenho estado mais com essas pessoas graças às feiras, que tem acontecido em São Luís e isso faz com que as pessoas que gostam desse tipo de alimentação ser reúnam mais. Então percebo isso, um grande número de eventos como feirinhas. Eu mesmo participo de algumas, como a da Academia Personal Group e da Lagoa, que infelizmente por conta da chuva não esta sendo mais realizada lá e sim no shopping, que não é a proposta. Se houvesse mais feiras em lugares públicos, como ruas e praças, e com mais frequência, isso mudaria a vida de muitos produtores e teríamos mais consumidores conscientes”, desabafa.

Receita alimentar

Com a ideia de não só servir um alimento, a terapeuta Carina Limberger começou a fornecer quentinhas que possibilitam também usar os ingredientes para uma receita equilibrada para as pessoas que possuem intolerância a lactose, restrição alimentar e também gestantes que estão se preparando para o parto normal, assim como a própria dôla, que a acompanha.

“É uma comida vegana, sem soja, com alimentos naturais do qual a gente busca o equilíbrio dos ingredientes, fazendo uma combinação da qual pode auxiliar o corpo e passar uma variedades de sabor em um mesmo prato. A Matricaria traz uma consciência que não é só o alimento em sim, mas a maneira como se come e como se prepara esse alimento. E tudo isso vai auxiliar e interferir no organismo da pessoa.”

Para isso Karina utiliza alguns vegetais que são recolhidos em sua casa, que também é o local de atendimento da terapeuta que trabalha com massagens, tinturas, óleos e essências. A Matricaria – Cozinha Consciente por enquanto esta atendendo só pedidos, mas é entre o Ceuma (Renascença II) e o Tropical Shopping que Karina fixou um ponto para que a pessoa pudesse conhecer suas receitas.
“Eu sempre busquei uma alimentação mais equilibrada e agente vinha trabalhando com terapia e outras coisas na área da saúde e a as circunstâncias da vida em se fez surgir a Matricaria, dentro deste movimento que a gente está que busca uma melhor consciência no meio que a gente vive”, disse Carina que conta com sua parceira Isabelle Maduro, com quem divide as receitas da Matricaria – Cozinha Consciente.

Tânia Cristina Rabelo foi um caso de que alimentação salvou sua vida e também seu bolso. Em 2006 ela teve que emagrecer por conta de problemas de saúde e passou a tomar sucos detox, o resultado surpreendeu as amigas, que queria também consumir o produto que era feito por ela em casa. 
“Foi ai que passei a vender os sucos detox e mais tarde passei, por meio do suco passei também a fazer as sopas detox. Essa última eu fiz a receita e mandei para uma nutricionista, amiga minha, que viu e fez algumas modificações. Então passei a vender, contratei uma pessoa para as entregas e hoje tenho uma boa clientela. Hoje, essa renda ajuda a comprar meus medicamentos”.

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